Nunca se falou tanto sobre alimento funcional e saudável. Nas prateleiras, rótulos e redes sociais, cresce o interesse por alimentos que promovem a saúde e o bem-estar.
No entanto, junto com esse movimento dos consumidores por escolhas mais conscientes, também surge uma onda de propagandas chamativas — que nem sempre entregam o que prometem.
Os benefícios dos ingredientes funcionais são reais, mas é preciso compreender melhor o que são, como funcionam e de onde vêm para fazer escolhas seguras e alinhadas com a saúde e a sustentabilidade.
Neste texto, vamos falar sobre esses ingredientes e mostrar como eles podem ser desenvolvidos com menor impacto ambiental.
Alimento funcional começa com bons ingredientes funcionais
Os ingredientes funcionais são aqueles que, além de sua função nutricional básica, oferecem benefícios adicionais à saúde.
Eles podem ajudar, por exemplo, no equilíbrio da microbiota intestinal, na redução do colesterol, na regulação da glicemia ou até na prevenção de doenças crônicas. Esses efeitos devem ser comprovados por estudos científicos.
Entre os ingredientes funcionais mais conhecidos estão fibras solúveis, compostos fenólicos (com ação antioxidante), proteínas vegetais com propriedades específicas, prebióticos e probióticos. Eles podem estar naturalmente presentes em alimentos ou ser adicionados de forma planejada em novos produtos, como bebidas, snacks, balas e chocolates.
Um alimento enriquecido, por exemplo, é aquele que recebe ingredientes funcionais como fibras solúveis, proteínas vegetais, vitaminas ou minerais com alta biodisponibilidade. Essa estratégia contribui para tornar a alimentação mais equilibrada, com menor densidade calórica e maior valor nutricional.
Mas o que diferencia um “alimento enriquecido” de um modismo passageiro é a base científica sólida, a comprovação dos seus efeitos e a forma como ele é produzido. E é nesse ponto que a ciência, pesquisa e desenvolvimento têm um papel essencial.
Como a ciência brasileira desenvolve ingredientes funcionais para a indústria
No PBIS (Plataforma Biotecnológica Integrada de Ingredientes Saudáveis), os ingredientes funcionais não são apenas estudados — eles são projetados, testados e validados com foco em segurança, eficiência e viabilidade industrial. A pesquisa científica é o ponto de partida para desenvolver soluções que possam, de fato, chegar até o consumidor.
Entre os exemplos de tecnologias em desenvolvimento estão:
- Lipídios estruturados de baixa absorção, que contribuem para redução calórica sem comprometer textura e sabor.
- Extratos fenólicos com ação antioxidante, obtidos por métodos sustentáveis a partir de bagaço de laranja, pele de amendoim ou café defeituoso.
- Fibras solúveis com ação prebiótica, produzidas a partir da celulose (resíduo vegetal), por meio de processos biotecnológicos.
- Proteínas vegetais extraídas de feijão carioca, com propriedades funcionais melhoradas para aplicação em alimentos.
Em todas as linhas de pesquisa do PBIS, a sustentabilidade é parte central do processo. As tecnologias desenvolvidas priorizam o uso reduzido de água e solventes, o aproveitamento de resíduos que seriam descartados e a aplicação da biotecnologia como estratégia de menor impacto ambiental.
Trata-se de criar ingredientes funcionais por rotas mais limpas, eficientes e conectadas às demandas atuais por alimentos mais saudáveis e sustentáveis. Isso é inovação.
Alimentos funcionais: o que diz a ciência e a legislação?
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um alimento com alegação de propriedade funcional popularmente chamado de “alimento funcional” é aquele que, além das funções nutricionais básicas, produz efeitos metabólicos ou fisiológicos benéficos à saúde, podendo contribuir na redução do risco de doenças crônicas.
A alegação só pode ser feita se:
- Houver comprovação científica do efeito alegado;
- O alimento tiver segurança de uso;
- Estiver enquadrado na lista aprovada pela ANVISA ou tenha dossiê específico avaliado.
No Brasil, os alimentos funcionais são regulados pela RDC nº 54/2012, que define os critérios técnicos para uso desse tipo de alegação. Com base nessa norma, empresas podem incluir em seus rótulos frases como “auxilia no funcionamento do intestino” ou “contribui para a redução do colesterol”, desde que cumpram todos os requisitos estabelecidos.

Se você tiver interesse ou curiosidade em conhecer melhor os critérios e procedimentos adotados pela Anvisa para avaliar alegações funcionais ou de saúde, vale conferir o Guia para avaliação de alegações de propriedade funcional e de saúde para substâncias bioativas presentes em alimentos e suplementos alimentares.
O documento apresenta as instruções para a aprovação dessas alegações em substâncias bioativas presentes em alimentos ou suplementos alimentares.
“Alimentos com alegações funcionais seguem critérios científicos e regulatórios rígidos. No PBIS, nosso compromisso é transformar ciência em ingredientes funcionais seguros, eficazes e acessíveis para a indústria e para os consumidores.”
Importante destacar que alimentos funcionais não podem fazer alegações terapêuticas, como prevenir, tratar ou curar doenças. As alegações permitidas se restringem a efeitos fisiológicos benéficos ou à redução de fatores de risco, desde que haja comprovação científica e aprovação regulatória.
Exemplos de alimentos funcionais já aprovados no Brasil
Os alimentos funcionais estão cada vez mais presentes nas prateleiras e na rotina das pessoas. Alguns exemplos de ingredientes com alegações funcionais aprovadas pela ANVISA incluem:
- Fibras solúveis, como beta-glucanas, com efeitos comprovados na redução do colesterol e no funcionamento do intestino;
- Probióticos, como Lactobacillus e Bifidobacterium, que contribuem para o equilíbrio da microbiota intestinal;
- Fitosteróis e estanóis vegetais, que auxiliam na redução da absorção de colesterol;
- Vitaminas antioxidantes, como vitamina C e E, com alegações relacionadas à proteção celular e ao combate ao estresse oxidativo;
Esses alimentos são exemplos de como a ciência pode agregar valor à alimentação, oferecendo benefícios reais e validados para a saúde.
Do laboratório à mesa: como democratizar o acesso a alimentos funcionais
O PBIS tem como um de seus principais objetivos aumentar a disponibilidade de ingredientes funcionais no mercado brasileiro, unindo ciência, sustentabilidade e inovação industrial.
Os resultados obtidos até agora mostram que é possível desenvolver alimentos funcionais e acessíveis, com base em matéria prima de alto valor agregado e processos de menor impacto ambiental.
Ao conectar a pesquisa científica às demandas reais da indústria e dos consumidores, o projeto contribui para fortalecer e para transformar a alimentação do futuro — com mais funcionalidade, segurança e transparência.
Quer saber mais sobre as tecnologias do PBIS e como elas podem transformar a indústria de alimentos?
Acompanhe nossos próximos conteúdos e descubra como a ciência está moldando a alimentação do futuro.
Principais referências
GARCIA, E. E. C. et al. (Ed.). Brasil Food Safety Trends 2030: transformações, tendências e desafios para a governança e gestão da segurança dos alimentos. 1. ed. Campinas – SP: ITAL, 2023.
VIALTA, A.; REGO, R. A. (Ed.). Brasil ingredients trends 2020. 1. ed. Campinas: ITAL, 2014. Recurso eletrônico.
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