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Ingredientes funcionais obtidos de subprodutos impulsionam saúde e sustentabilidade

Coordenadora Juliana Macedo destaca como a obtenção de ingredientes funcionais a partir de resíduos tem transformado a indústria de alimentos

No Brasil, onde frutas, legumes e grãos são produzidos em larga escala, também sobram toneladas de resíduos que costumam ser descartados sem aproveitamento. Mas e se esses subprodutos da agroindústria pudessem ser reaproveitados e ganhassem nova vida — agora como ingredientes funcionais com alto valor para a saúde?

É exatamente isso que a Plataforma II do PBIS vem demonstrando com pesquisas que unem sustentabilidade, inovação e nutrição. Coordenada pela Dra. Juliana Macedo, a plataforma tem como foco a obtenção de extratos fenólicos a partir de resíduos agroindustriais como pele de amendoim, café verde defeituoso e bagaço de laranja.

 Conheça a Plataforma II: transformando conhecimento em inovação

Esses compostos são ricos em antioxidantes e têm efeitos comprovados na prevenção de doenças crônicas, podendo ser incorporados em alimentos como iogurtes, balas e chocolates funcionais.

Dra. Juliana Alves Macedo - UnicampDurante minha graduação, o extrato fenólico era visto como um problema: entupia tubulações, complexava com proteínas. Hoje, ele é reconhecido como essencial para a saúde da população.” – Dra. Juliana Macedo, coordenadora da Plataforma II do PBIS

Assista ao bate-papo que o Descascando a Ciência teve com a Dra. Juliana Macedo:

A mudança de percepção sobre os extratos fenólicos reflete a evolução da ciência de alimentos e a necessidade crescente de incorporar compostos bioativos nos produtos industrializados consumidos pela população. E o desafio, como explica Juliana, é duplo: ampliar o consumo de fenólicos e fazer isso a partir de fontes abundantes e sustentáveis.

Ciência aplicada à sustentabilidade: o papel dos extratos fenólicos no aproveitamento de resíduos

Os compostos fenólicos estão naturalmente presentes em frutas e vegetais, mas o consumo desses alimentos ainda é baixo no Brasil. Por isso, uma das estratégias da plataforma é incorporar fenólicos em produtos que já fazem parte do cotidiano da população — como biscoitos, bebidas e doces — sem comprometer o sabor ou a viabilidade industrial.

E tudo isso com um diferencial: o uso de resíduos de grandes cadeias produtivas como matéria-prima. “Nosso entendimento é que as cadeias produtivas maiores do Brasil geram muitos coprodutos que podem ser fontes preciosas de fenólicos e precisam ser valorizadas”, explica Juliana.

Desde o início do PBIS, a Plataforma II já avançou por diferentes etapas do desenvolvimento tecnológico: escolha das fontes, extração dos compostos, formulação de ingredientes e aplicação em protótipos. Atualmente, há soluções em diferentes níveis de maturidade tecnológica — algumas já prontas para transferência à indústria.

Da bancada à prateleira: como os extratos fenólicos se tornam ingredientes funcionais

O trabalho desenvolvido pelo grupo mostra como é possível transformar ciência básica em aplicações concretas.

Os extratos são testados em diversas matrizes alimentícias, com ingredientes em pó e em cápsulas desenvolvidos para diferentes finalidades, como bebidas, iogurtes e snacks. Tudo isso com tecnologias limpas, sem uso de solventes químicos, e com alto potencial de escalonamento.

Temos um cuidado enorme em garantir que o que estamos desenvolvendo possa ser produzido em escala industrial”, ressalta Juliana.

A pesquisadora também destaca a atuação em conjunto da Unicamp com o Ital e outros parceiros da plataforma para garantir que os extratos mantenham seus benefícios nutricionais sem gerar impactos negativos como amargor, coloração ou precipitação nos alimentos.

Da ciência para sua mesa: inovação no aproveitamento de resíduos agroindustriais

A Plataforma II exemplifica o potencial da bioeconomia brasileira quando unimos pesquisa de ponta, sustentabilidade e foco na saúde do consumidor. Mais do que aproveitar resíduos, trata-se de uma nova forma de pensar a cadeia de produção de alimentos: circular, funcional e inovadora.

Quer conhecer mais sobre esse trabalho? Acesse outros conteúdos da plataforma II:

Aproveitamento de resíduos: da indústria à inovação em ingredientes saudáveis

Extratos fenólicos: como a ciência transforma resíduos em saúde

Texto desenvolvido por

Descascando a Ciência: Empresa de comunicação que traduz a ciência em conteúdos estratégicos e acessíveis. Atuamos com planejamento, produção e divulgação de pesquisas e tecnologias para aproximar ciência, sociedade e mercado.

Principais referências

Dias, É.C.P.P. et al. Effects of Extraction Processes on Recovery, the Phenolic Profile, and Antiglycation Activity from Green Coffee Residues (Coffea arabica and Coffea canephora Pierre). ACS Sustainable Chemistry & Engineering, 2024.

FAO. Thinking about the future of food safety – A foresight report. 2022.

GARCIA, E. E. C. et al. (Ed.). Brasil Food Safety Trends 2030: transformações, tendências e desafios para a governança e gestão da segurança dos alimentos. 1. ed. Campinas – SP: ITAL, 2023.

Nogueira, A. R. de A. et al. High Concentrate Flavonoids Extract from Citrus Pomace Using Enzymatic and Deep Eutectic Solvents Extraction. ACS Sustainable Chemistry & Engineering, 2022.]

Silva, T. M. et al. Bio-Guided Extraction of a Phenolic-Rich Extract from Industrial Peanut Skin with Antioxidant and Hypotensive Potential. Antioxidants, 2024.