O modelo de pesquisa e desenvolvimento predominante no Brasil historicamente manteve as entidades de pesquisa distantes do mercado e suas necessidades. A plataforma PBIS, concebida segundo o edital NPOP, lançado pela Fapesp em 2019, nasceu com uma proposta inovadora. Raramente antes no Brasil um projeto envolveu diferentes entidades de pesquisa, diversas empresas e uma agência de fomento com o objetivo de solucionar um problema: a falta de produção nacional de ingredientes saudáveis, cada vez mais necessários à indústria de alimentos em todo o mundo.

A proposta era tão inovadora quanto desafiadora. Embora esse modelo de pesquisa e desenvolvimento apoiado no trabalho conjunto de institutos de ciência e tecnologia (ICTs), iniciativa privada e órgão governamental de fomento seja adotado com sucesso há muito tempo em diversos países, não era utilizado no Brasil. Conhecido como modelo de inovação aberta, ele é cada vez mais utilizado no mundo, e representa um caminho para viabilizar a atividade de pesquisa no País.

Na construção da PBIS, a participação da Fundação Shunji Nishimura, do Grupo Jacto, foi vital para estruturar a plataforma e colocá-la em operação. O diretor de Pesquisa de Novos Negócios do grupo, Tsen Chung Kang, com sua experiência em governança e estratégia, foi escalado para ajudar Ital, USP e Unicamp a formatar o projeto. Desde o começo, os participantes reconheciam que a grande diferença desse projeto é do ponto de vista da governança e gestão, e não da parte técnica, porque nisso as universidades brasileiras e as instituições de pesquisa são excelentes e contam com pessoal de alta competência.

“Nós começamos a trabalhar juntos no início, para definir o objetivo da governança, o porquê do projeto, e depois passamos ao que fazer, quando foram definidos os objetivos estratégicos. É assim que a gente organiza uma empresa, e as instituições de pesquisa e tecnologia gostaram, porque no fundo é um processo didático que inclui ferramentas e metodologias para construir um sistema e também uma cultura”, observa Tsen.

Foi preciso criar todos os processos, até porque a proposta exigia um convênio de cooperação de pesquisa e para isso não existia um escopo predefinido, daí a importância de toda a estrutura montada para operacionalizar o NPOP-PBIS. Assim, consolidou-se uma Convenção que mostra como é a organização de governança e o que cada um faz. Foram criados diversos fóruns, um conselho curador, um comitê executivo e os diversos comitês que direcionam mensalmente o andamento dos projetos.

Dentro deste contexto foi criado o Comitê de Propriedade Intelectual, composto pelas ICTs e pelas empresas, que fará a discussão de toda propriedade intelectual que sair do projeto, seja na forma de patentes ou de tecnologias. Esse grupo vai decidir quanto pagar de royalties por tecnologia, por quanto tempo e qual o percentual de cada uma. Esse é um exemplo de mecanismo pensado para que empresas e ICTs ficassem seguros de que tudo seria feito a quatro mãos, inclusive porque o aprendizado é muito importante nesse processo.

 

A solução jurídico-administrativa

A Fundação Shunji Nishimura teve papel decisivo para colocar o projeto em marcha, e também em outros momentos. O convênio de pesquisa assinado entre Fapesp, Ital, Unicamp e USP também incluiu a Fundação. As cinco entidades assinaram o contrato inicial, cabendo à Fundação o papel de administrar os contratos ou termos de adesão com as dez empresas que se integraram ao projeto, o que foi também uma inovação em relação ao modelo tradicional, que era uma empresa, uma instituição de pesquisa e a Fapesp.

A gestão financeira do projeto é realizada pela Fundepag, uma subcontratada da Fundação Shunji Nishimura, que foi selecionada por meio de concorrência entre outras fundações de apoio à pesquisa. 

O trabalho da Fundação Shunji Nishimura vai até o final do projeto, que tem previsão de cinco anos de duração. Assim, seu diretor executivo, Elvis Fusco, está no Comitê Executivo com o papel de gerenciar o relacionamento com as empresas e contratos.

 

As ferramentas e as metodologias

Para chegar ao “porquê” do projeto, a equipe da PBIS trabalhou com uma ferramenta conhecida do grupo Jacto chamada PVV, que facilita a definição de propósito, visão e valores. As discussões com todos os pesquisadores focaram uma visão de futuro dos próximos 20 anos, para avaliar como essa área de ingredientes saudáveis vai impactar na saudabilidade dos alimentos. Com esse objetivo, foram feitos seminários em que todos os pesquisadores se posicionaram e que tiveram também a participação de especialistas internacionais.

Na etapa seguinte, foi realizado um levantamento de todas as pesquisas que já estavam sendo desenvolvidas nas universidades e que poderiam ser levadas para a indústria, e chegou-se à definição dos temas das quatro plataformas biotecnológicas. Na sequência, os pesquisadores destrincharam os temas e os detalharam. Assim, chegava-se ao “como fazer”.

O projeto também contou com ferramentas de Design Thinking, muito usadas no Silicon Valley para definição de estratégia, e com o MVP (Minimum Viable Product), ou seja, qual o produto mínimo viável que precisa sair desses projetos para utilização pela indústria. Já na parte operacional optou-se pelo Scrum, metodologia ágil para fazer o acompanhamento dos projetos e que permite manter o foco na entrega de valor para o negócio, no menor tempo possível.

Fazendo uma retrospectiva de todo o processo até aqui, Tsen destaca que é uma cultura que está sendo implantada. “Estamos todos esperançosos, porque o sucesso desse projeto é um caminho de futuro para viabilizar a atividade de pesquisa, é uma nova forma de fazer pesquisa colaborativa no Brasil. Temos que transformar artigos científicos em nota fiscal, e encontramos na equipe de pesquisadores do Ital um grupo muito comprometido, disposto a fazer diferente, e a gente tem prazer em contribuir com um trabalho como esse”, finalizou.