Novas fontes de proteínas vegetais com funcionalidade tecnológica e nutricional

Proteínas são essenciais para a manutenção de um corpo saudável — constituem a estrutura de ossos, músculos, pele e cabelo; atuam na prevenção e combate a doenças na forma de anticorpos do sistema imunológico; catalisam as reações bioquímicas (metabolismo) por meio de enzimas e controlam os níveis de glicose na forma de insulina. Sua ingestão se dá, em grande parte, via alimentos de origem animal — carnes, ovos, leite e derivados desses.

No entanto, a cadeia produtiva de proteína animal é responsável por uma série de impactos no meio ambiente. Seu processo envolve, por exemplo, o consumo de grandes volumes de água e baixo rendimento. Além disso, a produção animal não será capaz de acompanhar o ritmo de crescimento da população humana no planeta, que em 2050, segundo estimativa da ONU, chegará a 9,7 bilhões de habitantes.

Em busca de alternativas mais sustentáveis e atentas ao aumento da demanda por alimentos plant-based em função da redução do consumo de carne, como mostra pesquisa do GFI/IBOPE, a indústria brasileira tem investido cada vez mais em novas opções de proteínas de origem vegetal.

Além de macronutrientes necessários para o bom funcionamento do corpo humano, as proteínas possuem importante funcionalidade tecnológica, já que são aplicadas no processamento de inúmeros alimentos, e esse é um dos desafios ao substituir proteínas vegetais em produtos que mimetizam os produtos à base de proteínas animais.

Largamente utilizadas na indústria em forma de emulsificantes (gema de ovo), gelificantes (colágeno, proteínas do leite) e espumas (clara de ovo, proteínas do leite), entre outras funções, as proteínas animais estão presentes em produtos como maionese, sorvete, gelatina, iogurte, embutidos e muitos outros consumidos no dia a dia.

A partir dessa problemática, a equipe da Plataforma Biotecnológica Integrada IV, coordenada pela Dra. Mitie Sônia Sadahira, pretende desenvolver ingredientes protéicos para a indústria alimentícia a partir de matérias-primas vegetais brasileiras e métodos sustentáveis, promovendo modificações na estrutura das proteínas adquiridas para melhorar as suas propriedades funcionais.

A extração e funcionalização da proteína vegetal configura outro desafio. Enquanto a proteína animal é obtida praticamente “pronta” para utilização, a de matriz vegetal precisa passar por um processo de separação das fibras, amidos e outros compostos. O método mais tradicional para sua obtenção é o fracionamento úmido, porém esse método implica elevado consumo de água e de energia elétrica, além da utilização de reagentes químicos.

Para este projeto, foi adotada a técnica de fracionamento a seco, que, entre outras vantagens, mantém a forma nativa das proteínas e também os compostos bioativos (fibras, amido resistente, fitoquímicos), não utiliza água e reagentes químicos, e garante maior eficiência energética.

Uma das preocupações da equipe responsável pela plataforma era a opção por uma fonte vegetal brasileira, com larga produção e que não se enquadrasse na categoria GMO (geneticamente modificada). Foi escolhido então o feijão do tipo carioca (Phaseolus vulgaris), que é amplamente consumido no País.

Após o processo de extração, a próxima etapa consiste na funcionalização das proteínas por micro-ondas e moinho de esferas. Por meio desses processos, pretende-se melhorar as propriedades funcionais tecnológicas, tais como, solubilidade, emulsificação, formação de espumas, gelificação, capacidade de retenção de água e óleo. Dessa forma, os produtos desenvolvidos serão aceitos sensorialmente pelos consumidores, além da possibilidade de diminuir os fatores antinutricionais, levando a maior biodisponibilidade dos nutrientes.

Esses três processos (fracionamento a seco, tratamento por micro-ondas e por moinho de esfera) visam obter variados tipos de farinha proteica, que, de acordo com a avaliação de propriedades funcionais tecnológicas, poderão ser utilizados em diferentes aplicações na indústria de alimentos.

A equipe da plataforma é composta pelos seguintes profissionais:

 

Mitie Sônia Sadahira (coordenadora da plataforma), Teresa Bertoldo Pacheco (coordenadora do PBIS), Elizabeth Harumi Nabeshima (colaboradora), Flavio Martins Montenegro (colaborador), Patrícia Blumer Z. R. de Sá (colaboradora), Cristiane Rodrigues Gomes Ruffi (colaboradora), Fernanda Zaratini Vissotto (colaboradora), Rosa Maria Vercelino Alves (colaboradora), Elaine Kaspchak (pós-doutoranda).