Obtenção de extratos fenólicos a partir de resíduos agrícolas com aplicação em alimentos funcionais

Sob a coordenação da Dra. Juliana Alves Macedo, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/Apta/SAA) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)compõem a Plataforma II do PBIS: Obtenção de extratos fenólicos a partir de resíduos agrícolas com aplicação em alimentos funcionais.

Os pesquisadores desenvolvem estratégias para transformar resíduos da agroindústria em extratos fenólicos — ingredientes com potencial funcional que contribuem tanto para a saúde das pessoas quanto para a sustentabilidade da cadeia de alimentos.

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Transformando conhecimento em inovação

Para chegar a um alimento funcional enriquecido com compostos fenólicos, que de fato entregue benefícios para a saúde do consumidor final, foi necessário um longo caminho de pesquisa e desenvolvimento que agora está pronto para ser transferido para indústria de alimentos e posteriormente aos consumidores.

Ao longo dos últimos quatro anos, os pesquisadores estruturaram um pacote tecnológico completo que contempla desde a seleção da matéria-prima, otimização dos processos de extração e encapsulamento, até a aplicação e caracterização dos extratos em produtos alimentícios.

A proposta vai além da funcionalidade: une inovação, sustentabilidade e viabilidade industrial, oferecendo à indústria de alimentos uma alternativa nacional para formulações com benefícios à saúde.

Os testes de aplicação já realizados incluíram:

  • Bebidas com compostos antioxidantes e sabor equilibrado;
  • Chocolates enriquecidos com extratos, mantendo textura e sabor;
  • Balas com apelo funcional e alto teor de compostos fenólicos.

Confira o vídeo de apresentação da Vitrine Tecnológica desenvolvida pela Plataforma II do PBIS:

Entre os diferenciais da tecnologia, destacam-se:

O pacote tecnológico desenvolvido apresenta vantagens competitivas que o tornam altamente atrativo para a indústria:

  • Processos sustentáveis de extração, com uso reduzido ou inexistente de solventes tóxicos;
  • Encapsulamento dos extratos para melhorar estabilidade e aplicação em diferentes matrizes;
  • Ingredientes com ação antioxidante e anti-inflamatória comprovada;
  • Potencial funcional validado por testes laboratoriais e aplicação em formulações reais;
  • Conexão com os princípios de clean label e upcycling apelo natural

Além disso, a tecnologia está alinhada às tendências globais de inovação responsável, promovendo soluções mais saudáveis e sustentáveis para o consumidor. Ao transformar resíduos agroindustriais em extratos ricos em compostos fenólicos, a Plataforma II contribui para incorporar esses bioativos na alimentação dos brasileiros — de forma acessível, segura e com aplicação viável na indústria, utilizando infraestrutura já existente.

A coordenadora da Plataforma II, Dra. Juliana Macedo, junto às pesquisadoras Dra. Gabriela Chiocchetti e Dra. Lidiane Betaglia, apresentou a trajetória da pesquisa e o desenvolvimento do pacote tecnológico para obtenção de extratos fenólicos encapsulados e sua aplicação em alimentos durante um dos painéis do 3º Encontro Técnico-Científico, realizado no Ital em setembro de 2025.

Fundamentação da pesquisa: da necessidade à inovação

O Desafio pela busca de ingredientes funcionais nacionais

A crescente conscientização da sociedade sobre a importância de uma dieta saudável impulsiona a busca por alimentos funcionais — aqueles capazes de oferecer benefícios para além das propriedades nutricionais básicas. Essa demanda é especialmente relevante para a indústria de alimentos, que precisa inovar constantemente para atender ao consumidor moderno.

De acordo com o relatório The Future of Food & Drink 2030, elaborado pela consultoria internacional WGSN, os alimentos funcionais devem se tornar itens básicos nas listas de compras até o fim da década. No entanto, para que isso aconteça, é necessário garantir o acesso a ingredientes funcionais de qualidade, atualmente majoritariamente importados por empresas brasileiras.

Uma proposta de solução brasileira

Foi nesse contexto que surgiu a Plataforma II do PBIS, com um objetivo estratégico: desenvolver ingredientes funcionais inovadores produzidos no Brasil e a partir de resíduos da agroindústria nacional, capazes de atender à demanda crescente por alimentos saudáveis e sustentáveis.

Além de promover o uso de extratos fenólicos de origem vegetal pela indústria alimentícia nacional, a iniciativa também busca agregar valor à coprodutos de cadeias produtivas, redirecionando resíduos agroindustriais para a criação de novos ingredientes. A proposta é clara: impulsionar a indústria nacional de funcionais, melhorar a qualidade nutricional dos alimentos e posicionar o Brasil como referência global nesse segmento.

A escolha dos resíduos agroindustriais

A Plataforma II iniciou seus trabalhos com três matérias-primas principais: café verde e defeituoso, pele de amendoim e resíduos de cítricos. A seleção desses resíduos foi feita com base em critérios estratégicos. Além de apresentarem perfis relevantes de compostos bioativos com potenciais benefícios à saúde, esses resíduos estão disponíveis em grande volume, possuem baixo custo e alta disponibilidade no Brasil — características fundamentais para viabilizar sua aplicação em escala industrial.

Os compostos fenólicos presentes nessas matérias-primas pertencem ao grupo dos polifenóis, funções orgânicas formadas por estruturas fenólicas com múltiplas hidroxilas ligadas a anéis aromáticos. Eles estão naturalmente presentes nos vegetais, na forma livre ou ligados a açúcares e proteínas, e podem ser classificados em flavonoides e não flavonoides.

Vários desses compostos apresentam atividade antioxidante direta, ou seja, são capazes de neutralizar radicais livres. Além disso, estudos indicam que alguns fenólicos podem exercer propriedades bactericidas, anti-inflamatórias e antimutagênicas.

Por essas características, os compostos fenólicos são considerados ingredientes-chave no enfrentamento de quadros de inflamações crônicas subclínicas e desequilíbrios oxidativos, que estão entre as principais causas das doenças crônicas não transmissíveis — como doenças cardiovasculares, câncer, distúrbios neurodegenerativos e síndrome metabólica.

Da pesquisa ao pacote tecnológico: do extrato ao alimento funcional

Como visto, os pesquisadores da Plataforma II chegaram a um pacote tecnológico completo, que reúne métodos de extração de compostos fenólicos, processos de encapsulamento e estratégias de aplicação em alimentos com potencial funcional.

A partir desse pacote, são desenvolvidos ingredientes para matrizes alimentares diversas — como balas, confeitos, chocolates e bebidas — já com foco em qualidade sensorial e aceitação do consumidor.

Na etapa seguinte, a plataforma concentra esforços na avaliação da estabilidade dos produtos e de suas características sensoriais, para então conduzir os estudos que comprovem a funcionalidade nutricional dos alimentos formulados com esses extratos.

A equipe da plataforma é composta pelos seguintes pesquisadores:

Dra. Juliana Alves Macedo, Dra. Gabriela Alves Macedo, Dra. Gabriela Matuoka Chicchetti, Ms. Ana Carla Matos, Luiza Gabriella Dantas, Ms. Julia Millena dos Santos Silva, Ms. Nathalia Almeida Costa, Ms. Barbara Morandi, Ms. Dannaya Gomes Quirino, Ms. Vanize Genova, Élida Perusso Pereira Dias, Dra. Alessandra Gambero, Dr. Valdecir Luccas, Dr. Aline de Oliveira Garcia, Dra. Ana Lúcia Fadini, Dra. Marise Bonifácio Queiroz, Dra. Patricia Blumer Zacarchenco Rodrigues de Sá, Dra. Sílvia Cristina Sobottka Rolim de Moura, Dra. Gisele Anne Camargo, Dra. Carla Léa de Camargo Vianna Cruz, Dra. Cristiane Rodrigues Gomes Ruffi, Dra. Izabela Dutra Alvim.