Desenvolvimento e produção de prebióticos
A parceria entre o Departamento de Biotecnologia da Escola de Engenharia de Lorena e o Instituto de Física de São Carlos foi natural. A linha de pesquisa do Prof. Segato, utilizando microrganismos, produz as enzimas que agem na parede celular de plantas, onde se encontram os polímeros de celulose, xilana, manana, frutose e outros tipos de sacarídeos, que são a matéria-prima para a produção de oligossacarídeos. No Instituto de Física de São Carlos, por sua vez, o Prof. Igor Polikarpov pretendia produzir os oligossacarídeos, que são cada vez mais demandados pelos consumidores por causa de suas propriedades benéficas e já vêm sendo explorados em alimentos funcionais.
Em linhas gerais, na microbiota intestinal das pessoas existem bactérias benéficas que apresentam a capacidade de utilizar esses oligossacarídeos para se desenvolver e, assim, competir com outros microrganismos não tão benéficos. Se uma pessoa consome um alimento rico em alguns tipos de oligossacarídeos, promove o desenvolvimento dessas bactérias benéficas da sua biota.
O objetivo do professor Igor era investigar proteínas capazes de produzir esses oligossacarídeos com diferentes graus de polimerização, por meio de enzimas que partissem uma cadeia longa em cadeias menores. E fazer uso de fungo para produzir essas proteínas e tratar a biomassa. A cana foi a matéria-prima escolhida para a obtenção desses oligossacarídeos.
O Instituto de Física de São Carlos dispõe de ferramentas biofísicas para estudar as proteínas em nível molecular e, assim, obter a distância atômica entre os aminoácidos, entender como a molécula se encaixa no substrato, tentar modificar aquela região de reconhecimento e fazer com que a proteína produza oligos com características desejáveis. Na parceria, o professor Segato, que tem uma biblioteca enzimática bem grande, deve fornecer as cepas fúngicas para a produção de tais proteínas. Posteriormente, na eventualidade de se clonarem outros genes e produzir, o trabalho será conjunto. Por isso, formou-se uma plataforma só tendo por base o fungo filamentoso para obtenção de proteínas doces e outras proteínas para produzir oligossacarídeos.
Com relação às proteínas doces, a taumatina é o carro-chefe do projeto, mas também foram selecionadas outras proteínas que têm o mesmo efeito, como miraculina, monelina, braseína e outras, porque expressar uma proteína não é trivial. A taumatina foi a escolha inicial por já ser utilizada e porque existem trabalhos que já produziram essas proteínas, só que em baixa quantidade, enquanto a proposta do desenvolvimento no âmbito da PBIS é produzir em maior quantidade para uso industrial.
Esses trabalhos anteriores descrevem alguns miligramas por litro, enquanto a proposta atual é chegar a gramas por litro. Com essa finalidade serão testadas diversas proteínas para fazer com que sejam expelidas em maior quantidade. Assim, pode-se mudar algumas regiões específicas da proteína, pode-se ligar essa proteína em outras já produzidas em grande quantidade utilizando essa como um carreador.
O problema de usar um carreador é que depois é necessário separá-lo da proteína de interesse, o que aumenta um passo no processo. Como a pesquisa está pegando uma proteína de planta para colocar em fungo, isso pode confundir bastante a maquinaria celular. Assim, a intenção de colocar uma proteína carreadora é para que essa possa trazer quantidades maiores da taumatina para fora, uma vez que essa é uma proteína supostamente estranha à célula.