Produção de prebióticos e proteínas doces e suas interações para promoção da saúde humana

Sob a coordenação do Dr. Fernando Segato, pesquisadores da Universidade Estadual de São Paulo (USP), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/Apta/SAA), e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) compõem a Plataforma III do PBIS: Produção de prebióticos e proteínas doces e suas interações para promoção da saúde humana.

A equipe trabalha para transformar, por meio da biotecnologia, fungos filamentosos em fábricas celulares capazes de produzir proteínas doces — como a taumatina — e fibras solúveis com potencial prebiótico. Esses ingredientes podem ser aplicados em produtos alimentícios para promover saudabilidade.

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Transformando conhecimento em inovação

A produção de alimentos funcionais depende de ingredientes que ofereçam benefícios à saúde, além do valor nutricional básico. Atualmente, muitos desses ingredientes são importados, o que aumenta custos e limita a autonomia da indústria nacional.

A Plataforma III foi criada com o objetivo de desenvolver, no Brasil, ingredientes funcionais produzidos por rotas biotecnológicas. Com foco na produção da taumatina e de fibras solúveis com ação funcional, a proposta é oferecer soluções que ampliem o acesso a alimentos saudáveis, reduzam a dependência externa e promovam sustentabilidade.

Ao longo de quatro anos, os pesquisadores estruturaram um pacote tecnológico completo. O processo envolve:

  • Engenharia genética de fungos filamentosos,
  • Produção por fermentação em biorreatores,
  • Aplicação dos ingredientes em matrizes alimentares como balas funcionais.

A tecnologia permite a obtenção da proteína doce taumatina e de fibras solúveis com potencial prebiótico, com rendimento e previsibilidade superiores à extração tradicional da proteína em plantas.

Confira o vídeo de apresentação da Vitrine Tecnológica desenvolvida pela Plataforma III do PBIS:

Entre os diferenciais da tecnologia, destacam-se:

O pacote tecnológico desenvolvido apresenta vantagens competitivas que o tornam altamente atrativo para a indústria:

  • Produção mais rápida e eficiente: em poucos dias de cultivo é possível obter gramas por litro de proteína, enquanto a planta fornece miligramas por quilo de fruta;
  • Menor necessidade de área plantada, com menor impacto ambiental;
  • Rotas biotecnológicas personalizadas;
  • Combinação de ingredientes com funcionalidade comprovada e perfil sensorial adequado.

O pacote tecnológico desenvolvido pela Plataforma III contribui para fortalecer a autonomia biotecnológica, ampliar o acesso a ingredientes funcionais e estimular a inovação no setor. É uma solução segura e que pode ser incorporada de forma viável pela indústria alimentícia,

O coordenador da Plataforma III, Dr. Fernando Segato, juntamente com as pesquisadoras Dra. Gabriela Berto e Msc. Júlia Ortega, apresentou a trajetória da pesquisa e o desenvolvimento do pacote tecnológico em um dos painéis do 3º Encontro Técnico-Científico, realizado no Ital em setembro de 2025.

Você pode conferir esse bate-papo completo no podcast abaixo:

Fundamentação da pesquisa: da necessidade à inovação

Os gargalos da produção tradicional e os desafios da biotecnologia

A proteína doce taumatina é atualmente extraída da planta africana Thaumatococcus daniellii, com baixo rendimento e dependência de uma cadeia produtiva limitada. Produzi-la de forma sustentável e em maior quantidade é um desafio tecnológico que pode ampliar o acesso a adoçantes naturais, com melhor perfil sensorial e segurança metabólica. Além disso, a produção de oligossacarídeos com ação prebiótica demanda estratégias eficientes e versáteis de engenharia enzimática.

Entre os desafios enfrentados estão a expressão eficiente de proteínas vegetais em microrganismos, a escolha do melhor organismo hospedeiro e a adaptação das condições de cultivo para maximizar o rendimento sem comprometer a funcionalidade dos ingredientes.

Uma plataforma baseada em engenharia genética e fermentação

A proposta da plataforma é desenvolver um microrganismo geneticamente modificado (cell factory) para produção da taumatina e de fibras prebióticas com aplicabilidade industrial. O projeto envolve a síntese de genes otimizados para a expressão heteróloga, desenvolvimento do vetor de expressão, inserção do gene em fungo filamentoso e avaliação de diferentes condições de fermentação. O microrganismo será projetado para secretar a proteína diretamente no meio, facilitando o processo de purificação.

Em paralelo, também serão desenvolvidas enzimas para produção de oligossacarídeos a partir de biomassa vegetal, com foco em matérias-primas como a cana-de-açúcar.

Por que usar fungos filamentosos? A escolha do chassis e da estratégia

Três possíveis chassis microbianos foram avaliados: Escherichia coli, leveduras e fungos filamentosos. A escolha recaiu sobre o fungo filamentoso Myceliophthora thermophila, por ser eucarionte, realizar modificações pós-traducionais compatíveis com a proteína vegetal e secretar a proteína no meio de cultura, facilitando a recuperação.

A maltose foi escolhida como fonte de carbono para indução da expressão, por ser barata e amplamente disponível. Também serão testadas fontes alternativas como o melaço de cana. A partir do modelo de fungo já utilizado na EEL-USP, pretende-se evoluir para um microrganismo mais robusto, adequado à produção industrial.

Metas técnicas que guiam a inovação

A plataforma estabeleceu metas técnicas claras:

  • Construção de quatro ou mais clones contendo sequências gênicas otimizadas das proteínas doces, preparadas para inserção no fungo.
  • Otimização das condições de fermentação para maximizar a secreção de proteínas, variando fonte de carbono, meio de cultura e tempo de cultivo.

Além disso, a meta é avaliar diferentes proteínas doces com potencial substitutivo à taumatina e desenvolver enzimas capazes de transformar biomassa vegetal em oligossacarídeos com propriedades prebióticas.

Da pesquisa ao pacote tecnológico

Como vimos, os pesquisadores da Plataforma III estão desenvolvendo um pacote tecnológico completo para a produção de ingredientes funcionais — mais especificamente, proteínas doces e fibras prebióticas — utilizando fungos geneticamente modificados como fábricas celulares.

A partir desse pacote, espera-se produzir ingredientes que possam ser incorporados em alimentos como chocolates, balas, confeitos e bebidas, com foco em sabor, funcionalidade e apelo clean label. A etapa seguinte do projeto envolve a validação da proteína produzida em diferentes matrizes alimentares, avaliando sua estabilidade, manutenção do poder adoçante e interações com o alimento. Esse processo será realizado em parceria com o Ital.

A expectativa é que os resultados da Plataforma III contribuam para o desenvolvimento de adoçantes e ingredientes funcionais nacionais, com potencial para aplicação em alimentos, bebidas e até cosméticos — substituindo compostos menos sustentáveis e atendendo à demanda por produtos com apelo natural e funcional.

A equipe da plataforma é composta pelos seguintes pesquisadores:

Dr. Fernando Segato, Dra. Gabriela Berto, Msc. Júlia Ortega, Igor Polikarpov, João Victor André Silveira e Pedro Ribeiro Faria.