Síntese de lipídios estruturados para redução calórica de alimentos

Sob a coordenação da Dra. Gabriela Alves Macedo, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/Apta/SAA) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)compõem a Plataforma I do PBIS: Síntese enzimática de lipídios estruturados para redução calórica de alimentos.

Os pesquisadores trabalham para criar uma nova geração de ingredientes saudáveis: lipídios estruturados de baixa absorção. Por meio de técnicas como a interesterificação enzimática e química, a equipe desenvolveu óleos vegetais com estrutura modificada, que são absorvidos apenas parcialmente pelo organismo, resultando em menor aporte calórico.

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Transformando conhecimento em inovação

Com o objetivo de oferecer à indústria e consumidores uma alternativa viável para reduzir o teor calórico de alimentos, sem abrir mão do sabor e da experiência sensorial.

O grupo de pesquisadores da plataforma I do PBIS desenvolveu, ao longo de quatro anos, um pacote tecnológico completo: desde a escolha das matérias-primas e rotas tecnológicas, até a formulação e caracterização dos produtos alimentícios com a nova gordura estruturante.

Essa inovação é especialmente relevante para produtos onde a textura cremosa e a estabilidade da gordura são essenciais, como recheios de biscoito tipo sanduíche, chocolates e pastas cremosas. A nova gordura rica em ácido behênico permite substituir integralmente ou parcialmente os lipídios convencionais, resultando em produtos com menor absorção de gordura pelo organismo.

Confira o vídeo de apresentação da Vitrine Tecnológica desenvolvida pela Plataforma I do PBIS:

Entre os diferenciais da tecnologia, destacam-se:

O pacote tecnológico desenvolvido apresenta vantagens competitivas que o tornam altamente atrativo para a indústria:

  • Perfil lipídico melhorado, com menor absorção intestinal e possível efeito funcional;
  • Estabilidade oxidativa superior, favorecendo o shelf-life dos produtos;
  • Aplicação versátil, com testes bem-sucedidos em diferentes matrizes alimentares;
  • Sabor e textura adequados, alinhados com as expectativas do consumidor;
  • Potencial de rotulagem funcional, desde que cumpridos os requisitos regulatórios;
  • Possibilidade de clean label, dependendo da formulação final.

Além disso, a tecnologia se encaixa nas tendências globais de inovação responsável: oferece uma solução mais saudável para o consumidor e está pronta para ser absorvida pela indústria, utilizando infraestrutura já disponível.

A coordenadora da Plataforma I, Dra. Gabriela Macedo, juntamente com os pesquisadores Dr. Valdecir Luccas e Dr. Matheus Roman, apresentou a trajetória da pesquisa e o desenvolvimento do pacote tecnológico em um dos painéis do 3º Encontro Técnico-Científico, realizado no Ital em setembro de 2025.

Fundamentação da pesquisa: da necessidade à inovação

O desafio global da obesidade

A prioridade em responder a um dos principais desafios de saúde e bem-estar da população — o combate à obesidade — é hoje uma emergência global.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700 milhões sejam considerados obesos. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, mais da metade da população apresenta excesso de peso, e a obesidade já supera os 20%.

Esse cenário também afeta as novas gerações. Um relatório do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, com dados de pessoas acompanhadas na Atenção Primária à Saúde, revela que cerca de 340 mil crianças brasileiras, entre 5 e 10 anos, foram classificadas como obesas em 2022.

Além da solução farmacêutica

Na tentativa de mitigar o problema, a indústria farmacêutica investiu no desenvolvimento de medicamentos. Nos anos 1990, foi aprovado o Orlistat (nome comercial: Xenical), um inibidor seletivo da lipase pancreática que promovia baixa absorção de triglicerídeos.

Apesar da eficácia inicial, o uso do medicamento implicava também na baixa absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), ácidos graxos essenciais e poli-insaturados. Isso resultava em efeitos colaterais como diarreia e gases, devido ao acúmulo de lipídios não digeridos nas fezes. Além disso, muitos pacientes abandonavam o tratamento antes de completar um ano, dada a necessidade de suplementação contínua.

Uma resposta tecnológica nacional: inovação em ingredientes lipídicos

Entendendo que a resposta ao controle da obesidade precisa ir além das soluções medicamentosas, a Plataforma I do PBIS apostou em uma abordagem alimentar inovadora: a síntese de lipídios estruturados, com composição e distribuição de ácidos graxos modificadas.

Essa estrutura especial reduz a absorção dos lipídios no intestino, promovendo menor aporte calórico e mantendo a funcionalidade industrial.

O objetivo é oferecer ingredientes saudáveis para compor a dieta da população, utilizando rotas tecnológicas nacionais, com viabilidade técnica e econômica. Esses ingredientes podem ser aplicados em:

  • Spreads (pastas de avelã com chocolate, manteiga de amendoim etc.);
  • Recheios de biscoitos e chocolates;
  • Emulsões vegetais como maioneses e patês.

Resultados promissores em modelos experimentais

Os pesquisadores da Plataforma I já demonstrou, em estudos com animais, que os lipídios estruturados sintetizados inibem o ganho de peso e melhoram parâmetros lipídicos séricos, sem provocar efeitos colaterais gastrointestinais ou inflamatórios.

As conclusões preliminares indicam que a tecnologia tem potencial para impedir o desenvolvimento da obesidade, contribuindo diretamente para a saúde pública.

Etapas e metas do desenvolvimento tecnológico

Os objetivos iniciais traçados pela plataforma incluíram:

  • Síntese em escala de bancada de diferentes lipídios estruturados a partir de fontes vegetais;
  • Precificação e valoração da tecnologia, com análise de impacto da inovação;
  • Avaliação nutricional dos lipídios produzidos;
  • Definição das proporções ideais de mistura com gorduras comerciais, visando a aplicação em alimentos.

A equipe da plataforma é composta pelos seguintes pesquisadores:

Pesquisadores e pós-docs:
Gabriela Macedo, Juliana Macedo, Ana Paula Badan, Alessandra Gambero, Guilherme Furtado, Valdecir Luccas, Carla Lea de Camargo Vianna, Cristiane Rodrigues Gomes Ruffi e Izabela Dutra Alvim.

Doutorandos, mestrandos e técnicos:
Vanessa Alves, Daniel Batista, Alice Malveira, Kamyla de Oliveira Aquino, Christiane Ap. Ruiz Mendes, Maria Angélica Razzé de Carvalho, Amanda Ávila, Ferdynanda Moreira Silva, Janaina Ramiro Dedé, Lara Lima Cornejo, Larissa Santos Fratia, Lígia Delboni, Matheus Augusto Silva Roman, Nicolas Maxxi.